Tudo sobre jogos de tabuleiro
Emily Goodman
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Jogamos jogos de tabuleiro – nalguns casos, os mesmos – há milénios. Xadrez, damas, gamão e Go têm origem no mundo antigo. O faraó Tutancámon foi enterrado com vários conjuntos de um jogo egípcio chamado Senet. Centenas de peças de cerâmica grega retratam Ájax e Aquiles curvados sobre um tabuleiro a meio de um jogo. E acredita-se que os Aashanti, do Gana, criaram um jogo de tabuleiro chamado Wari, que pode conhecer como o jogo de contar e capturar Mancala.
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Só no século xix é que os jogos de tabuleiro começaram a ser comercializados. O primeiro, Mansion of Happiness (Mansão da Felicidade), foi lançado em Inglaterra em 1800. A «mansão» era o paraíso, e os jogadores concorriam para chegar lá. Décadas depois, um americano chamado Milton Bradley renovou – e rebatizou – o jogo como The Checkered Game of Life (O Jogo da Vida em Xadrez).
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O Parcheesi tem raízes na Índia antiga, onde se chamava pachisi, da palavra hindi para «vinte e cinco», o resultado mais alto possível numa única jogada. Mas enquanto os americanos apenas adaptaram o nome, os britânicos decidiram chamar-lhe Ludo, do latim para «Eu jogo». Depois, quando o inglês Anthony E. Pratt desenvolveu o seu jogo de tabuleiro de mistério em 1943, chamou-lhe Cluedo, fazendo um jogo com Ludo. (Nalguns países, chama-se apenas Clue.)
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Em todo o mundo, o colorido elenco de Cluedo pode aparecer bastante diferente. O Professor Plum era originalmente chamado Dr. Orange em Espanha. Mr. Green é o Chef Lettuce no Chile. Mrs. Peacock é Mrs. Purple no Brasil e Mrs. Periwinkle em França, e na Suíça é o Capitão Blue, um homem.
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Os jogos de tabuleiro inspiram argumentistas de cinema: o mistério Clue de 1985, o filme de ação Battleship – Batalha Naval de 2012 e o filme Dungeons & Dragons: Honra entre Ladrões, de 2023.
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Pelo menos um jogo de tabuleiro está a ser adaptado para uma série de televisão, embora o seu criador tenha sido um famoso cineasta francês. Albert Lamorisse, que escreveu e dirigiu o vencedor do Óscar de 1956, O Balão Vermelho, também criou um jogo de tabuleiro a que chamou La Conquête du Monde (A Conquista do Mundo). A Parker Brothers, um fabricante americano de brinquedos e jogos, introduziu-o nos EUA pouco depois e o rebatizou-o como Risco.
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Outro inventor de jogos, Alfred Butts, chamou à sua criação Lexiko, depois Criss Cross Words, até se decidir por Scrabble – uma palavra que significa «segurar algo». O incrivelmente popular jogo foi traduzido para 29 idiomas e vendeu-se mais de 150 milhões de unidades em todo o mundo.
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Foi durante uma partida de Scrabble que os canadianos Chris Haney e Scott Abbott tiveram a ideia para o seu o jogo, Trivial Pursuit. O sucesso deu origem a uma batalha legal de vários anos com um enciclopedista americano que afirmava que Haney tinha copiado trívia dos seus livros, algo que Haney admitiu prontamente. No final, os tribunais decidiram que não se pode roubar trívia e rejeitaram o processo. Durante a década de 1980, o Trivial Pursuit superou até o Monopólio, acumulando 800 milhões de dólares em vendas apenas em 1984.
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Quando se joga a um nível mais profissional, nem tudo é dinheiro a fingir. O vencedor do Torneio Mundial de Xadrez leva para casa cerca de 60% do bolo de 2 milhões de euros, e o vice--campeão fica com a parte menor. Até mesmo o campeão mundial de Monopólio leva para casa dinheiro real. São 20 580 dólares, a quantia que vem num jogo padrão de Monopólio.
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O americano que vendeu o Monopoly à Parker Brothers na década de 1930, Charles Darrow, costuma ter o crédito de criar o jogo. Mas foi outra americana, Elizabeth Magie, quem, décadas antes, registou a patente da sua invenção, The Landlord’s Game (O Jogo do Senhorio). Os jogadores compravam caminhos de ferro, pagavam rendas e às vezes acabavam na prisão. Ironicamente, o objetivo da Sra. Magie era mostrar os males da acumulação de riqueza à custa da bancarrota dos outros.
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O Monopólio foi um jogo polarizador nos países comunistas. Fidel Castro baniu-o em Cuba, e também foi banido na China durante grande parte do século xx. Mas uma parte ainda mais dramática da história do jogo de tabuleiro ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Como os prisioneiros de guerra na Alemanha estavam autorizados a ter jogos de tabuleiro, as tropas americanas escondiam mapas, bússolas e dinheiro real dentro de caixas de Monopólio para os ajudarem a fugir.
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A ideia para o jogo clássico infantil Candy Land foi de Eleanor Abbot, uma paciente americana de poliomielite que, em 1949, queria criar algo para as crianças jogarem enquanto estavam de quarentena. Na verdade, a doença serviu muitas vezes de inspiração para os jogos. No jogo de tabuleiro britânico Plague, que começou por ser uma aplicação móvel, os jogadores assumem o papel de doenças mortais que tentam espalhar-se pelo mundo com mutações. Inversamente, em Pandemic, criado por um americano, os jogadores tentam evitar a propagação de doenças e descobrir curas.
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Milhares de novos jogos são lançados no mercado todos os anos. Como podemos saber quais vale a pena comprar? Um indicador fiável é o Spiel des Jahres (Jogo do Ano, em alemão), um prestigiado prémio atribuído todos os verões por um júri de críticos de jogos (na maioria alemães) que se voluntariam para jogar e votar nos jogos vencedores. Os premiados incluem Settlers of Catan, Dominion e Ticket to Ride.