DÁ BEIJINHOS AO SEU CÃO?
DESCUBRA ATÉ QUE PONTO OS SEUS HÁBITOS QUESTIONÁVEIS SÃO REALMENTE NOJENTOS DE ACORDO COM ESPECIALISTAS EM SAÚDE.
Rosemary Counter
Admito que, quando se trata de comida, tenho algumas práticas um pouco nojentas, como raspar o bolor do queijo cheddar e dar o resto à minha família sem hesitar. Ainda estamos vivos, como pode ser tão mau? Uma vez que os nossos hábitos humanos nojentos se situam algures ao longo de um espetro que vai desde o ligeiro engelhar do nariz até ao totalmente repulsivo, entrei em contacto com especialistas para descobrir onde se situam, num «medidor de nojo», alguns comportamentos comuns.
COMER COMIDA VELHA
A data de validade impressa – e os seus primos confusos «consumir até» e «consumir de preferência antes de» – deve ser apenas uma chave na sua caixa de ferramentas dedicada a «devo comer isto?»
«Com exceção das fórmulas para lactentes, os rótulos dos alimentos não são normalizados ou regulamentados», afirma a nutricionista Marie Spiker, professora assistente na Universidade de Washington. «Poucos estão relacionados com a biologia ou a segurança alimentar – apenas com o pico de frescura.» E assim, diz ela, é totalmente correto e seguro comer alimentos que não estão no seu pico exato. O manuseamento, a embalagem, a refrigeração e o armazenamento afetam a cronologia de qualquer alimento, pelo que as suas melhores ferramentas são os olhos e o nariz.
«Na maior parte das vezes, é intuitivo», diz Spiker. «Se tem bom aspeto e cheira bem, provavelmente é bom.» Não tem a certeza? Considere o seguinte: «Os esporos espalham-se através de superfícies macias e porosas. Por isso, em geral, os alimentos duros são mais difíceis de penetrar e, por conseguinte, mais seguros de comer», explica. Não confia no seu
olfato ou na visão? Consulte a página da Agência Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA | Ciência, alimentação segura, sustentabilidade – europa.eu), onde estão disponíveis normas de segurança alimentar.
USAR UMA ESCOVA DE DENTES EMPRESTADA
Poucos de nós utilizaríamos a escova de dentes de um desconhecido por duas boas razões:
1) Não fazemos ideia das doenças ou germes que essa pessoa alberga.
2) É nojento. Mas isso não é certamente o mesmo que pedir emprestada a do seu parceiro numa emergência, certo? Afinal de contas, nós trocamos beijos. Bem...
«A sua boca não é um local estéril e está repleta de bactérias únicas para si», diz Matthew Messina, DDS, diretor clínico da Ohio State Upper Arlington Dentistry, em Columbus. «A razão pela qual escovamos e usamos fio dental é para remover as bactérias vivas.» Muitas vezes, de locais onde os lábios não tocam. Usar a escova de dentes do seu parceiro significa que está a transferir os germes dele para a sua boca, o que pode perturbar o delicado equilíbrio de bactérias da sua própria boca.
Claro que, se viveu com alguém durante tempo suficiente, é provável que «o seu grupo familiar já partilhe algumas bactérias em comum», afirma Messina. Mas o melhor é jogar pelo seguro. Se se encontrar de férias sem uma escova de dentes, basta gargarejar com elixir bucal ou água. E, quando estiver a viajar, lembre-se: «A não ser que esteja num safari, as escovas de dentes estão facilmente disponíveis. Basta ligar para a receção do alojamento.»
BEIJAR O SEU CÃO
Um inquérito recente revelou que 61% dos donos de cães admitem que os beijam na boca. Tudo isto apesar da possibilidade de doenças zoonóticas (que passam dos animais para os humanos), incluindo a pasteurella, que pode resultar em inflamação da pele e infeções nas articulações; salmonela (cólicas estomacais, febre) e E. coli (diarreia, infeções da corrente sanguínea). Dito isto, o risco de o Bobi lhe transmitir um parasita ou qualquer outra coisa é muito baixo... exceto quando não é.
«Se fosse jovem, velho, estivesse grávida ou imunodeprimido, se tivesse acne ou psoríase ou uma ferida aberta facilmente infetável, evitaria ser lambido no rosto», diz o veterinário Scott Weese, chefe de controlo de infeções do Ontario Veterinary College.
Mesmo as pessoas saudáveis devem escolher bem as bicadas.
Tenha isto em mente antes de dar uma lambidela no seu cão. Tudo o que ele lambeu – tudo! – pode acabar dentro de si. «Deve fazer-se uma análise de custo-benefício», afirma Weese. «Para muitas pessoas, beijar faz parte da ligação com o animal de estimação. Se é esse o seu caso e o risco vale a pena, tudo bem.»
BEBER DE GARRAFAS DE ÁGUA NÃO LAVADAS
É muito provável que, enterrada num saco de ginástica ou esquecida na bagageira do carro, tenha uma garrafa de água reutilizável que foi enxaguada, mal e raramente, mas nunca devidamente lavada. E depois, é só água, certo? Não é verdade! Agora também é uma série de outras coisas. O interior da garrafa é como um aquário sujo. Está «coberta de biofilmes, aglomerados de microrganismos viáveis que crescem a partir da flora da boca», explica Peter C. Iwen, professor no departamento de Patologia, Microbiologia e Imunologia da Universidade do Nebraska. Uma pequena consolação: «A nossa flora não nos faz necessariamente mal.»
O que pode fazer mal, no entanto, é qualquer bactéria estranha que possa entrar sorrateiramente na garrafa e multiplicar-se. Uma garrafa de água que fica algumas horas num carro quente é uma boa caixa de Petri para as bactérias se desenvolverem e, em «apenas água», há muitos nutrientes da saliva para o biofilme viscoso se alimentar. Uma simples lavagem não a limpa. Isto porque a garrafa tem inúmeras fendas microscópicas para as bactérias se esconderem e transformarem em bolor, o que pode causar diarreia, vómitos ou sintomas de alergia. As garrafas de plástico poroso são as mais hospitaleiras para as bactérias, por isso opte por vidro ou aço inoxidável. E tente lavá-la amiúde com detergente da loiça ou, melhor ainda, com uma parte de vinagre e três partes de água.
DISPENSAR O SABÃO
A maioria das pessoas tende a ser meticulosa quando lava as mãos numa casa de banho pública. E em casa? Porquê preocupar-se em esfregar as mãos? Afinal de contas, os germes na sua casa de banho provavelmente pertencem-lhe. E até certo ponto tem razão.
«O sistema imunitário está treinado para reconhecer os próprios micróbios e livrar-se dos restantes», diza Dra. Shannon Manning, professora associada de Microbiologia e Genética Molecular na Michigan State University. Mas tenha em conta que uma sanita com autoclismo, quando deixada aberta, expele partículas invisíveis para o ar a mais de um metro por segundo. «Se apanhar um agente patogénico (um organismo que causa doenças) nas mãos e depois comer uma sanduíche, por exemplo, pode ingerir o agente patogénico», diz. E se isso acontecer e ficarmos doentes, «mesmo os micróbios que já abrigamos podem crescer sem controlo se o nosso sistema imunitário estiver ocupado a combater outra coisa».
Daí a necessidade de uma boa lavagem. Um simples esguicho de água pode ser insuficiente, diz a Dra. Shannon, uma vez que é mais provável que os germes estranhos se fixem nas mãos molhadas.
UMA PINGUINHA NO DUCHE
Boas notícias para quem larga uma pinguinha no chuveiro: fazer xixi enquanto se está no duche é, na verdade, bastante natural.
«A água quente e corrente do duche estimula a bexiga a contrair», diz Lori Lerner, professora associada e chefe de Urologia na Chobanian & Avedisian School of Medicine da Universidade de Boston. Um espasmo súbito pode forçar a saída da urina da bexiga. «Na maioria dos casos, a urina é estéril. São apenas eletrólitos do corpo e vai diretamente pelo cano abaixo», explica a Dra. Lerner.
Mas e se estiver a nadar numa piscina pública? A urina das outras pessoas provoca repulsa, embora, mais uma vez, não seja tão mau como parece.
«A urina numa piscina é muito diluída com toneladas de cloro exatamente por esta razão», refere a especialista. O corpo humano tem fugas e, embora tecnicamente qualquer fluido corporal possa conter bactérias que podem provocar doenças, se o risco da urina da piscina não fosse minúsculo todos os dias haveria notícias sobre milhares e milhares de infeções. Muito pior do que a piscina tratada com químicos, acrescenta a Dra. Lerner, é um lago cheio de resíduos de peixe e bactérias. Mas graças às belas paisagens e às boas relações públicas da natureza, ninguém se preocupa com isso.
ESPREMER AS BORBULHAS
Tem o vício de espremer as borbulhas? Quer o faça por tédio ou vaidade, não está sozinho. A prova? O programa de televisão Dr. Pimple Popper e os intermináveis vídeos do TikTok.
Mas antes que o seu rosto acabe por se assemelhar a um campo de minas explodidas, o dermatologista Dustin Portela, do estado norte-americano do Idaho, lembra: uma borbulha rebentada é, basicamente, uma ferida aberta onde as bactérias podem entrar sorrateiramente e provocar uma infeção cutânea altamente contagiosa, como o impetigo, ou um fungo à base de leveduras, como a candidíase. O Dr. Portela já viu borbulhas transformarem-se em dolorosos abismos infetados que requerem antibióticos e drenagem cirúrgica.
Mas há boas notícias: a probabilidade de isto acontecer é baixa. Por isso, se não consegue manter os dedos afastados da cara, o Dr. Portela sugere que se esfregue como um cirurgião. De acordo com o Instituto Nacional de Saúde, são necessários dois a cinco minutos para esfregar cuidadosamente as mãos e os antebraços com um sabão antimicrobiano. Mesmo assim, alerta o Dr. Portela, «as infeções não são inevitáveis».
É por isso que ele sugere que calce um par de luvas de látex e, assim que terminar, aplique um penso medicamentoso para ajudar a lesão a sarar mais depressa e evitar que continue a espremer. Porque quanto mais mexer, maior é a probabilidade de ficar com cicatrizes.