TENHA UMA MÃO (MAIS) VERDE

TENHA UMA MÃO (MAIS) VERDE


Julie Lane-Gay 

fotografias por Emiko Franzen



Quer adore cavar a terra, plantar sementes e colher a abundância que daí nasce ou ache a ideia de fazer crescer plantas intimidante, esta primavera oferece a promessa fresca de um começo. Cultivar flores, vegetais, ervas aromáticas ou seja o que for não precisa de ser eternamente complicado ou ocupar o seu sábado todo. Como jardineira entusiasta não me importo com um pouco de suor, mas prefiro trabalhar com inteligência e que tudo seja fácil. Aqui tem um guia rápido para minimizar o esforço e maximizar a alegria.




E se não fizer ideia por onde começar?


Quando me mudei para o meu atual jardim fiquei com uma maravilhosa tábua rasa, mas os canteiros pareciam estranhamente esparsos. Para criar uma sensação imediata de «presença» plantei alguns pelargoniums de folha aromática (por vezes chamados gerânios aromáticos). Estas plantas arbustivas são boas para começar, pois crescem depressa numa variedade de ambientes de jardins caseiros, sem precisarem de muita atenção, e as suas folhas aromáticas têm uma grande variedade de cores, tamanhos e formas. Espalhei-as pelo jardim nessa primavera e verão – em vasos, à volta dos meus arbustos recém-plantados (mas frágeis) e como sebe em torno da minha nova e pequena fonte.


Melhor do que tudo, fazendo jus ao seu nome, estas plantas emanam um perfume excecional. Espécies diferentes oferecem aromas de limão, rosa, alperce, gengibre, chocolate e muito mais. Kate Jayne, coproprietária do viveiro Sandy Mush Herb Nursery em Leicester, na Carolina do Norte, cultiva e vende 90 variedades. «Os gerânios aromáticos são ótimos quando plantados com vegetais», diz Kate, «pois crescem depressa, controlam as pragas e atraem as abelhas e os colibris». E, refere, o seu perfume faz da monda um prazer. Como os gerânios aromáticos não sobrevivem a geadas fortes, em novembro muda uma pequena seleção para dentro de casa, para apreciar os aromas durante os dias sombrios do inverno. Quando chega a abril, passa-os de novo para o exterior.



Como posso cultivar flores e alimentos num espaço pequeno?


Por vezes, misturo as cenouras, tomate e alface com plantas ornamentais como as margaridas e a erva-gateira. Uma papoila bonita, por exemplo, brilha junto a um arbusto de mirtilos.

Quer misture acelgas vermelhas e tulipas num vaso de barro junto à porta de entrada, ou plante alhos-franceses ao lado de gerânios aglomerados num canteiro de flores, o cultivo conjunto de legumes, frutos, flores e ervas aromáticas é uma estratégia comum. Este método permite poupar espaço e fica bonito, podendo também favorecer as plantas. Algumas flores ornamentais podem distrair os insetos maus das plantas comestíveis, enquanto atraem polinizadores que aumentam a produção.

Colocar alecrim de flor azul perto das cenouras é uma boa solução porque esta erva encobre o cheiro das cenouras e as pragas têm mais dificuldade em encontrá-las. Além disso, as flores atraem as abelhas. Vários jardineiros que conheço plantam cebolinho no meio dos amores-perfeitos de longa floração de modo a dissuadir os ratos e os veados. Num passeio no verão passado, reparei num recipiente que tinha um tomateiro-cereja cor de laranja no centro, rodeado de malmequeres e cosmos brancos (asteráceas).

Visualmente, era um bom emparelhamento – as folhas do tomateiro contrastavam bem com as folhas tipo feto do cosmos, e os malmequeres eram um ótimo enquadramento para os dois. Mas as flores também afastavam os pulgões do tomate. Como bónus, as plantas de alyssum (erva-da-loucura) cobriam as orlas do vaso. O alyssum não só floresce da primavera ao outono como atrai joaninhas e moscas-das-rochas, insetos que comem os incómodos pulgões. É uma situação em que todos ganham.




Qual é a forma mais fácil de cultivar as ervas aromáticas?


Quando uma amiga quis ter ervas aromáticas frescas na cozinha, plantei-lhe algumas num vaso de plástico de 15 x 35 centímetros, com buracos grandes para a drenagem, para colocar no parapeito da janela com mais sol. Enchi o recipiente com cerca de 10 centímetros de terra e depois misturei duas colheres de sopa de fertilizante em grãos de libertação lenta (disponível na secção de jardim da maioria dos supermercados). Depois de soltar as raízes de pequenas mudas de tomilho, alecrim e cebolinho, plantei-as juntas e bem calcadas. Orégãos, salsa e coentros também resultam. Acrescentei mais terra para preencher os espaços e disse-lhe que regasse (idealmente com algum fertilizante líquido misturado) a cada quatro dias, assegurando-se de que a água escorria pelo fundo do vaso. Também a aconselhei a colocar o vaso no exterior no verão. Ela ficou encantada com a conveniência de ter ervas frescas e, três anos depois, a sua horta de parapeito continua viçosa. (A frequência da rega depende do que plantou e onde o plantou. Veja «como começar» na página ao lado). 


Outro sucesso para uma horta interior são as microverduras. As microverduras são rebentos muito jovens de vegetais e ervas – ainda mais pequenos do que as variedades «baby». São saborosas, entre outros, nos ovos mexidos, saladas e batidos e extremamente nutritivas – podem ter o triplo da concentração de nutrientes em comparação com as folhas maduras. Os rabanetes, brócolos, couves, leguminosas e vegetais folhosos, como os espinafres, as acelgas e a rúcula, são os ideais.


Para cultivar microverduras, Amy Pennington, autora de Tiny Space Gardening, usa um tabuleiro raso ou uma assadeira. Começa por uma mistura de terra para sementes e coloca o suficiente para ficar rente ao topo. Amy aconselha que se espalhem as sementes densamente pela superfície da mistura. Deve-se aspergir o solo (e as sementes) com um vaporizador para saturar a superfície, e depois cobrir o tabuleiro sem apertar muito com uma película de plástico para manter a humidade, deixar entrar a luz e criar algum aquecimento. Coloca-se num parapeito ou numa bancada e deve manter-se a terra húmida. Remove-se a cobertura de película assim que aparecerem os primeiros rebentos. Espera-se até estes atingirem entre 3 a 5 centímetros de altura e terem duas camadas de folhas.

Amy usa a tesoura de cozinha para cortar os rebentos o mais rente possível, tirando apenas a quantidade de que precisa. Limpa e passa por água as verduras e guarda as sobras no frigorífico embrulhadas em papel. A maioria dos hortelões faz duas ou três colheitas de cada sementeira de verduras e depois volta a semear.



E se quiser cultivar (e comer) as minhas próprias verduras?


As verduras de «cortar e voltar» (as que se podem cortar partes sem arrancar a planta) – como a alface, couve, acelgas, rúcula, espinafres, endívias e até brócolos – são outra opção que não exige muito esforço. Eu semeio (ou seja, espalho as sementes) deixando três a quatro sementes a cada dois centímetros e meio em filas estreitas, ou oito a dez sementes em contentores quadrados de 10 centímetros. Quatro a cinco semanas depois, posso fazer saladas e salteados. O método de cortar e voltar é a forma mais fácil de cultivar verduras em pouco espaço e em pouco tempo.


Pode semear plantas de cortar e voltar com uma mistura de sementes (o meu método preferido), ou semear uma verdura em particular. Comece no início da primavera, quando os narcisos de flor grande estão a rebentar. Espalhe generosamente as sementes na terra húmida. Cubra-as com um punhado de terra com cerca de meio centímetro (não mais) e calque firmemente o solo e as sementes com a mão. Regue e assegura-se de que a terra nunca seca. Depois de cortar, lavo e seco as verduras e refrigero-as durante algumas horas para ficarem estaladiças.


Lindsay Del Carlo, gestora de uma horta de ensaios da empresa de sementes Renee’s Garden em Felton, na Califórnia, é fã da mistura de verduras mesclun (mistura de salada provençal) – são rápidas a germinar, «voltando» (as folhas voltam a nascer) três ou quatro vezes, e são deliciosas com vinagrete balsâmico. Para todas as colheitas de cortar e voltar, recomenda que espere até as plantas terem 10 a 15 centímetros de altura antes de as cortar. Corte apenas a quantidade de que precisa, tirando um molho de folhas novas a cerca de 3 a 5 centímetros da terra. Os favoritos de Lindsay com este método são os brócolos chineses (gai lan) e as nabiças. 



Não tenho espaço para plantas grandes. O que fazer?


Eu adoro o sabor dos morangos e curgetes que cultivo, mas reservar o lado 

com sol do nosso pátio para vasos grandes e ter de colocar estacas para as plantas que se prolongam com frutos pesados acaba por ser dissuasor. Por isso, tornei-me fã de algumas variedades mais pequenas, ou «anãs», de frutas e vegetais. É possível encontrar sementes e rebentos de ambas nos viveiros de plantas. Procure variedades que tenham pátio, gema ou «para vaso» no nome – de uma maneira geral são plantas mais pequenas. 

A variedade de framboesas Raspberry Shortcake não tem espinhos, dá-se bem em vasos de 12 litros e apenas cresce até um metro de altura. Os caules não precisam de estacas e produzem umas deliciosas bagas vermelhas verão adentro. As variedades de tomate que prefiro para os espaços exíguos (e sem estacas) incluem os Tiny Time e os Red Currant. Os caules estendidos de curgete podem ocupar espaço. Se não tiver muito, procure as sementes de uma variedade de vaso chamada Astia. É fácil de criar em casa num vaso e deliciosa para comer. 


O meu quintal tem pouco sol. Mesmo assim posso cultivar algo? 

Se tem pouca exposição ao sol (ou menos de seis horas por dia), Amy Pennington sugere que semeie ervilhas. «É uma colheita de tempo frio que não precisa de muito sol para crescer e, embora as ervilhas não sejam tão doces como se crescessem ao sol, ainda assim são bastante saborosas», diz. Outras plantas que toleram alguma sombra ou que se dão bem com sol apenas de manhã incluem a acelga, rúcula, alho-francês e rabanetes. 


Os hortelões principiantes podem deliciar-se com vitórias fáceis, e os mestres podem apreciar a variedade. Boas colheitas! 




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COMO COMEÇAR. UM GUIA PARA PRINCIPIANTES


O que plantar 

Comece por avaliar o espaço disponível. (Qual a exposição ao sol? O solo é arenoso ou argiloso?) Escolha plantas que se adaptem a estas condições. Descobri que se começar por dar às plantas o sol ou a sombra de que necessitam e o solo que preferem, não me pedem muito mais. Leio os rótulos, estudo as plantas antes de as comprar e resisto a plantar um cato em solo húmido ou um feto ao sol quente, por mais que ache que poderia ficar lindo.


Quando regar

Pode comprar um medidor de humidade, mas poucas ferramentas são mais precisas do que espetar um dedo no solo. O dedo fica sujo com terra castanha? Ou empoeirado, como se tivesse estado na areia? Se apanhar poeira, é altura de regar.

O teste seguinte consiste em apanhar uma mão--cheia de terra e apertar suavemente com as pontas dos dedos. O objetivo é que a terra mostre uma leve impressão dos seus dedos. Mas se a terra escorrer entre os dedos, está demasiado húmida. Não faça nada durante um dia ou dois até as raízes absorverem o excesso de humidade.


Como regar

Adicionar água suficiente para que o fluxo saia lentamente, mas de um modo constante, dos orifícios de drenagem (os orifícios de drenagem são sempre essenciais). Se a água correr pelos buracos, não está a saturar o solo. Quando o escoamento da água for lento e contínuo, já regou o suficiente.


A que estar atento 

As folhas com pouca água secam e caem, em geral de repente, enquanto as folhas com excesso de água ficam pálidas. «Lembre-se que quando as plantas estão a crescer rapidamente e com força, e a exigir mais ao sistema radicular, secam com mais frequência», diz Douglas Justice, diretor associado de horticultura e coleções do Jardim Botânico da UCB em Vancouver.


Quais os nutrientes?

Pode comprar fertilizantes secos de libertação lenta, ou líquidos de ação rápida. Nos vasos, use fertilizantes lentos quando a planta estiver em condições. 


Adicione fertilizante líquido a cada duas a quatro semanas. Quando plantar no solo, use fertilizante seco de libertação lenta uma vez na primavera.


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