E também uma possível vacina para o melanoma?
Melissa Greer
Ilustrações por Kate Traynor
É verão! A altura para tirar algumas camadas de roupa. Embora o sol saiba bem na pele nua, tenha cuidado se ficar demasiado tempo ao ar livre sem proteção. A incidência de cancro da pele está a aumentar, representando agora um em cada três cancros diagnosticados em todo o mundo.
Mas como é isso possível quando vemos cada vez mais campanhas sobre como apanhar sol em segurança e temos
à disposição informação acerca do cancro da pele?
Deve-se sobretudo a melhores estratégias de proteção e ao facto de vivermos mais tempo do que nunca. «Quanto mais vivemos, maiores as probabilidades de desenvolver cancro da pele», explica a Dra. Deborah S. Sarnoff, dermatologista em Nova Iorque e presidente da Skin Cancer Foundation. As boas notícias são que, desde que detetado cedo, é altamente tratável.
O cancro da pele costuma ser agrupado em duas categorias: não-melanoma e melanoma maligno. Os tipos não-melanoma, que incluem o carcinoma de células basais (BCC) e o carcinoma de células escamosas (SCC), são os mais comuns e representam a maioria dos casos. O principal risco é a exposição cumulativa aos raios ultravioleta (UV), e por isso o cancro da pele pode aparecer com a idade, por norma em zonas mais expostas ao sol.
«Isso inclui o rosto, orelhas, couro cabeludo e pescoço», diz a Dra. Clare Tait, dermatologista em Perth, na Austrália – o país do mundo com maior taxa de melanoma, segundo o World Cancer Research Fund International.
O melanoma representa apenas 1% dos cancros da pele, mas é de longe o mais mortal. Também é causado pela exposição aos raios UV – e se sofreu cinco ou mais queimaduras solares, o risco é duplicado – mas pode ser resultado de uma mutação genética hereditária. O melanoma normalmente aparece no peito, nas costas, na parte baixa das pernas, cabeça e pescoço, mas também pode ocorrer em zonas do corpo que raramente estão expostas ao sol, como a planta dos pés ou debaixo das unhas.
É muito perigoso porque pode espalhar-se de uma forma mais profunda na pele ou para outros órgãos, tornando o tratamento mais difícil.
No entanto, há boas notícias. Uma vacina mRNA em ensaio clínico pelas empresas farmacêuticas Moderna e Merck tem-se revelado um tratamento eficaz para o melanoma avançado. Os resultados, anunciados em dezembro de 2022, mostraram que, quando uma vacina mRNA personalizada é usada em combinação com imunoterapia na sequência da remoção cirúrgica do cancro da pele, o risco de recorrência ou morte em pacientes com melanoma de estágio 3 ou 4 é reduzido em 44% em comparação com apenas a imunoterapia e a cirurgia.
As vacinas, objeto de décadas de estudos para o tratamento personalizado do cancro, funcionam fornecendo uma secção de código genético – como se fossem instruções – que indica às nossas células como produzir uma proteína específica que o sistema imunitário aprende a atacar. «A vacina, na sua essência, treina o sistema imunitário a reconhecer e a responder a mutações do ADN específicas do tumor do paciente», explica a Dra. Deborah S. Sarnoff. Um ensaio mais alargado está planeado para este ano.
«É muito entusiasmante e um grande avanço», refere, porque o melanoma de estágio avançado – quando o cancro já metastizou para outros órgãos – é, com frequência, uma sentença de morte. Se aprovada, esta vacina pode ser outra opção para os pacientes com melanoma avançado, que hoje em dia é tratado com
quimioterapia, radiação, imunoterapia e terapia medicamentosa dire-cionada.
A prevenção e deteção precoce continuam a ser a nossa melhor defesa. «Com a deteção precoce, o melanoma está ainda limitado à epiderme e pode ser 100% curável», diz a especialista. É por isso que é importante conhecermos a nossa pele e vigiar sinais existentes e quaisquer alterações.
Procure fazê-lo a cada três meses, aconselha Anne Cust, presidente do Comité do Cancro da Pele do Conselho do Cancro da Austrália. «Tire fotografias aos sinais que o preocupam para acompanhar a sua evolução.»
Peça a um amigo ou companheiro que verifique as zonas que não
consegue ver, como a cabeça, a nuca, nádegas e a zona lombar, explica a Dra. Tait. Use um espelho e uma boa luz. Se detetar algo que lhe suscite preocupação, vá ao médico. Também é uma boa ideia fazer uma consulta anual de rastreio num dermatologista ou médico de família.
Procure estes sinais
ALTERAÇÕES
Os dermatologistas há muito recomendam que se procurem sinais que tenham contornos irregulares ou variações de cor, ou que sejam maiores (mais do que 6 milímetros, aproximadamente o tamanho da borracha na ponta de um lápis).
A Dra. Sarnoff sugere esta regra geral simples: «Qualquer coisa na sua pele que seja novo, tenha mudado ou seja invulgar deve ser verificado», aconselha.
NOVOS SINAIS OU ANORMALIDADES
Verifique novas manchas, sardas ou sinais, em particular se tem mais de 25 anos. É comum os adultos terem entre dez a quarenta sinais, e mais de cinquenta é um fator de risco aumentado de melanoma. Pequenos altos vermelhos, rosa ou cor de pérola podem ser BCC, sobretudo se aparecerem na pele que está mais exposta ao sol, como o rosto, pescoço, cabeça, mãos e ombros.
UMA SARDA OU SINAL COM ALTERAÇÕES
Isso deve ser examinado pelo médico, diz a Dra. Tait. «Pode ser uma alteração de forma, cor ou tamanho, ou algo que se tenha tornado doloroso ou comece a provocar comichão», diz. «Claro que isto pode acontecer e não ser cancro da pele, mas deve ser um sinal de alarme para ser examinado.»
UMA ZONA SECA, ESCAMOSA OU UMA FERIDA QUE NÃO SARA «Se tem um ponto que costuma provocar comichão, é escamoso e está sempre a aparecer no mesmo sítio, isso é um sinal de alarme», diz a Dra. Sarnoff. E preste atenção se tiver uma zona que perde frequentemente sangue sem que haja um trauma, pois pode ser um indício de BCC, afirma a Dra. Tait. Se uma ferida ou mancha invulgar não desaparecer em três ou quatro semanas, procure um médico.
UMA BORBULHA QUE NÃO DESAPARECE
«A duração de uma borbulha é de alguns dias até ao máximo de três semanas», explica a Dra. Sarnoff. Se tem algo que parece uma borbulha mas não desaparece, pode ser BCC ou SCC.
TUDO O QUE SEJA DIFERENTE
As sardas e os sinais saudáveis tendem a ser parecidos. «Se algo lhe parecer estranho, deve ser examinado», aconselha a Dra. Sarnoff. Pode ser um pouco mais comprido, ou mais escuro, ou então saliente. Quando algo lhe parecer diferente, confie nos seus instintos.
«A PROTEÇÃO SOLAR é particularmente importante nas situações em que os índices de UV são de três ou mais», refere a Dra. Tait. Durante o verão, isso costuma acontecer a meio do dia. Pode verificar o índice de UV diário na maioria das aplicações de meteorologia. E não se preocupe se não sintetizar vitamina D suficiente, diz Anne Cust. «A maioria das pessoas tem níveis adequados de vitamina D se passar apenas alguns minutos ao ar livre na maior parte dos dias.»
As pessoas com a pele clara, olhos azuis, cabelo louro e um histórico familiar de melanoma ou que têm muitos sinais correm um risco maior que as outras.
SE SE ENQUADRAR neste grupo, tenha precauções extra ao ar livre, refere a Dra. Clare Tait. Vista roupa que o cubra, use um protetor solar de espetro alargado com fator de proteção 30 ou maior, chapéu e óculos de sol. E ande pela sombra!