Estivemos todos na plateia do rock a vê-los passar, mas nem sempre nos apercebemos da importância que tiveram além da música. Beatles, Stones, Pink Floyd, Bowie ou Doors tocaram uma geração, são todos eternos. Tal qual como os dinossauros, não os temos mas sabemos bem que existiram, e neste caso ainda os ouvimos a todos.
A importância e o impacto que tiveram ainda hoje é difícil de avaliar com rigor. O que fizeram não foi apenas música – os Beatles influenciaram o seu tempo, criaram a cultura pop, tiveram a importância de uma revolução ou uma força política global, deram um empurrão ao mundo muito marcado pela mudança e revolta juvenil. Os rapazes de Liverpool compuseram a banda sonora desse filme de transformação de uma década, juntaram-se em 1960 e acabaram de candeias às avessas em 1970 para desespero dos milhões de fãs em todo o mundo.
A revolução da Beatlemania já estava feita e a música nunca mais seria igual. Quando lançaram o último álbum, Let It Be, em maio de 1970 (há cinquenta anos), já havia uns zunzuns de que Paul McCartney e John Lennon, as verdadeiras forças motrizes e criativas da banda, apenas berravam e não suportavam as idiossincrasias e caprichos um do outro. Muito se escreveu e disse sobre as artimanhas e gestão de bastidores feitas por Yoko Ono, a grande paixão de John Lennon, ou então a influência maléfica e manipuladora de Allen Klein, o empresário da banda, muito próximo de John Lennon e maledicente em relação McCartney. Oficialmente, ficou para a História que foi Yoko Ono a causadora de rutura.
Paul McCartney deu a notícia sem querer, durante uma conferência de imprensa deixando no ar a dúvida de que talvez abandonasse a banda. Foi o histerismo, os rapazes que arrastavam atrás de si miúdas de minissaia aos gritinhos e a desmaiarem pediam o divórcio e os fãs não o queriam dar. Paul entrou em depressão e refugiou-se na sua quinta na Escócia. John Lennon partiu para outra e os restantes companheiros, George Harrison e Ringo Starr, lá se foram safando discretos, mas nada ficou como dantes.
Naquele ano de 1970, eles estavam no auge da popularidade mas fartos da fama e deles próprios, já nem se falavam. Meses antes, ainda em 1969, quando gravavam o 12.º álbum, Abbey Road, a decisão estava tomada e sem troca de palavras. Como ainda se encontravam em estúdio e não se queriam ver, para não se cruzarem resolveram gravar separadamente as contribuições de cada um.
Os Beatles venderam mais de 2 mil milhões de discos e, o mais incrível, é que no pico da sua criatividade musical e popularidade nenhum sabia ler música ou decifrar uma pauta. É caso para dizer: «Let it Be»... O que conta é o que deixaram e ficou daí para a frente.
Os nossos avós, que bem conheciam aqueles sons, identificavam-nos como «aquelas músicas malucas» mas reconheciam cada um dos acordes de tão diferentes que eram. Foi uma década que valeu por um século inteiro. No fim, já entre as birras e caprichos dos rapazes de Liverpool, estava lançada a semente da revolução da música pop, uma revolução que alastrava à forma de pensar, de vestir, de estar e dançar.
Com a distância dos anos, hoje é mais fácil fazer o traçado desse mapa do tesouro das sonoridades, não só deles mas também dos que...
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