Velhos cowboys tal qual como os dos filmes, verdadeiros pistoleiros e protagonistas do Velho Oeste, outros heróis destemidos
que falavam português em produções de Hollywood e estrelas que por lá andaram ainda no tempo do mudo, tiveram êxito sem que por cá alguém percebesse que a vedeta tinha nascido e viajado de Lisboa à procura de fama na terra das estrelas. Há muitas histórias e episódios de heróis que já se apagaram da memória com os novos tempos, todos conferem a riqueza da nossa diáspora.
"A vida que leva um pescador, alegre risonha e feliz..." Foram estas palavras cantaroladas por Spencer Tracy, em 1937, que deixaram em Lisboa toda a gente empolgada: o cinema já era sonoro há dez anos e por cá nunca se tinha constado que Hollywood pudesse relatar uma história em que o protagonista fosse um português, ainda mais o herói do filme. Percebem-se as críticas eufóricas da imprensa da época. A personagem é Manuel Fidélio, interpretação muito simpática de Spencer Tracy, ainda em início de carreira e que ganhou com este filme o primeiro Óscar. O pescador de bacalhau, o Manel português, deu-lhe sorte e por cá não se pouparam de elogios. No anúncio de estreia do filme estava escrito: "Pela primeira vez num filme realizado em Hollywood um português feito herói de uma epopeia. Uma apoteoso ao coração português!..."
Dito assim e sem mais informação, parece mesmo que o filme Captains Courageous, que por cá recebeu o título de Lobos do Mar, o mesmo do
livro que inspirou o argumento, obra escrita pelo famoso autor escocês Rudyard Kipling, é uma evocação à nossa história, mas não, essa reação
de orgulho nacional tinha a ver com Manuel, a personagem central deste épico que, durante a projeção, quando lhe perguntam o que está a
cantar, diz que é português, a língua de 500 milhões à volta do mundo.
Lobos do Mar estreou em Lisboa a 28 de dezembro de 1937, uma produção da MGM (a produtora do leão a rugir), e foi realizado pelo
famoso Victor Fleming, que mais tarde assinou também E tudo o Vento Levou e Feiticeiro de OZ.
Era a semana de Natal de 1937, o Diário de Notícias mandou um repórter para o São Luiz, para registar uma estreia de cinema importante, o anúncio publicado no jornal dizia que era um exclusivo do São Luiz e que o filme só chegaria às outras salas a partir de maio do ano seguinte. O jornalista que esteve no teatro São Luiz não se poupou nas palavras ao relatar deste modo o que viu na sessão: «Sem mulheres, sem intrigas de amor ou futilidades do habitual, o filme ...
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